A toxicodependência tem sido uma das principais preocupações de saúde no mundo, existindo actualmente 30 milhões de toxicodependentes. Só no ano passado, o Hospital Central de Maputo recebeu cerca de seiscentos pacientes toxicodependentes, dos quais 95% são homens na sua maioria jovens.
Adolescentes, jovens e adultos com diferentes histórias. Entretanto, com o mesmo desafio: vencer a toxicodependência.
O consumo da droga e do álcool tem levado muitas pessoas à desgraça, loucura e, nalguns casos, à morte. Tudo começa de uma pequena brincadeira ou de uma simples curiosidade.
Arsénio Armando tem 18 anos de idade é um dos espelhos da toxicodependência. É um jovem que via na droga um dos seus refúgios, mas foi pelo consumo desta que se viu obrigado a perder amigos. Na tentativa de fugir dos problemas da vida, o adolescente foi se envolvendo no mundo das drogas, mas em vão. Com 12 anos experimentou o álcool aos 15 começou a fumar a heroína.
Está no Centro de Reabilitação para Marginalizados (REMAR) há um mês e não esconde a sua vontade em desligar-se das drogas.
“O meu maior desejo é vencer este vício, quando estou sob efeito das drogas viro um monstro”, desabafou.
Abandonou os estudos para se dedicar exclusivamente ao consumo da droga e álcool, mesmo sabendo dos riscos que corria.
“Perdi amigos, uns vagueiam pelas ruas da capital do país e outros morreram por causa da droga”, lamentou Arsénio.
Fora do centro de reabilitação, no Hospital Central de Maputo, o número de pacientes jovens que procuram os serviços de psiquiatria para o tratamento da toxicodependência é alarmante.
Só no ano passado, aquela unidade hospitalar assistiu cerca de 600 toxicodepentes, na sua maioria jovens. A directora do departamento de psiquiatria, Rosel Salomão Pedro, explica que, na maioria dos casos, os toxicodependentes procuram as unidades sanitárias por obrigação dos familiares, factor que dificulta o tratamento.
“Se o paciente não toma a decisão por si só de mudar a sua condição, torna-nos difícil ter uma resposta eficaz, mas temos feito todos os esforços possíveis”, revelou Rosel.
Por mês, o departamento de psiquiatria recebe em média 50 a 55 toxicodependentes, números bastante encorajadores uma vez que revela uma tomada de consciência por parte da sociedade frisou Rosel Salomão.
“O nível de procura dos nossos serviços neste momento é animador, pois prova que a disseminação da informação sobre este distúrbio mental tem chegado à população de forma eficaz”, acrescentou Rosel Salomão.
Centros de reabilitação: uma alternativa para os toxicodependentes
Os centros de reabilitação de toxicodependentes têm sido, nos últimos tempos, uma das principais alternativas para dar resposta a este distúrbio. No entanto, o país ainda se debate com a escassez de centros de reabilitação o que constitui um desafio, a título de exemplo, ao Hospital Central de Maputo cabe apenas à desintoxicação. A mesma consiste na desabituação física e psíquica das drogas ou do álcool, conforme for o caso, e no reconhecimento do problema. Feito isto, o paciente fica a sua mercê e da família.
http://opais.sapo.mz/upload1/files/2018/Fevereiro/Semana%205/HCM.jpg Na segunda fase, que ocorre nos centros de reabilitação, são tratados e discutidos os problemas que levaram o indivíduo à toxicodependência e são desenvolvidas actividades segundo a profissão e talento de cada um.
Terminada esta fase, segue-se a reinserção. Aos indivíduos, são dadas responsabilidades sobre as outras pessoas, dando margens de confiança, o que lhes ajuda a recuperar a sua auto-estima.
Sara Novela é disto exemplo, há mais de quatro anos que está internada na Remar, Centro de Reabilitação de Marginalizados. A mãe de uma filha conta que perdeu quase tudo que tinha, dentre a família, bens materiais e a sua dignidade.
“Vim parar neste local devido ao álcool, no início foi difícil reintegrar-me, neste momento aguardo pelo dia da minha saída que está para breve”, desabafou.
Cacilda conta que foi com 14 anos de idade que deu o seu primeiro gole de álcool daí nunca mais parou. Destruiu o que durante muito tempo construiu com o seu esforço. Perdeu o casamento e hoje, naquele centro, está distante da sua filha devido ao álcool.
“Arrependo-me de tudo que fiz quando estava sob efeito do álcool, magoei a minha família e distanciei-me da minha filha”, revelou.
Cacilda representa 5% das mulheres que procuram o Hospital Central de Maputo em busca de tratamento da toxicodependência.
Actualmente, a REMAR conta com 80 jovens que estão no programa de reabilitação, todos lutam pela recuperação no seu dia-a-dia, através do desenvolvimento de actividades ocupacionais tais como agricultura e pecuária.
Entretanto, nem tudo é um mar de rosas naquele local. Segundo Alexandre Diogo da REMAR, nos últimos tempos, tem sido recorrente a ocorrência de fugas por parte dos pacientes, em alguns casos, depois de terminarem o tratamento, têm necessidade de retornar ao centro porque tiveram uma recaída alegadamente porque não resistiram.
“Infelizmente alguns dos nossos pacientes têm abandonado a reabilitação, esta realidade nos inquieta”, disse Diogo.
Segundo a Organização das Nações Unidas, o consumo de drogas mata duzentas mil pessoas, por ano, entre narcóticos ilegais, sobredoses e outros problemas associados.
A Remar (Reabilitação de Marginalizados) é uma organização não-governamental que surgiu em 1982, na Espanha. A mesma dedica-se à trabalhos de cariz social. As suas actividades estão ligadas à assistência social a crianças órfãs, abandonadas, mães solteiras, toxicodependentes, doentes de HIV/Sida, viúvas e idosos, acolhendo-os gratuitamente e ajudando-os na sua reabilitação física e psíquica.
A Associação Remar encontra-se em Moçambique desde o ano de 1998 e conta com 13 casas de acolhimento (Maputo, Beira e Xai-Xai) para toxicodependentes, homens, mulheres e crianças.
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